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quinta-feira, 8 de março de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA

OS SÚDITOS E AS CELEBRIDADES
Jeremias Macário
Fogos pipocam no ar festivo das noites etílicas de muitas pirotecnias de cores. As luzes se cruzam nos céus. Foguetes bilionários sobem ao espaço para explorar o universo. Os ricos ficam mais ricos e os súditos vão ao compasso das suas celebridades que manobram as massas. Aqui até a morte tem sua hierarquia, mas os do alto das suas torres nos ensinam uma ilusória lição de que todos são iguais.
A afronta, o acinte, o deboche e outras atitudes de exibicionismo de riqueza e poder onde se usa as camadas menos favorecidas em termos monetários e culturais, para exaltações de suas vaidades promocionais, deveriam ser incluídos no rol dos crimes contra a humanidade, assim como o racismo, a injúria e a calúnia.
  Num show de uma celebridade grávida por métodos de inseminação em laboratório, os súditos em delírio pedem bis e ela aponta que sua médica, ali ao seu lado, que sempre a acompanha em todos os lugares e nas suas apresentações, a recomendou não fazer mais esforço. Só com a liberação dela. É de dar inveja!
Tudo parece ser simples, normal, e sem nenhuma ofensa maior, não fosse a triste realidade de desigualdade social e de abandono em que vive a população brasileira, principalmente no que tange ao atendimento na área da saúde onde muitas gestantes parem nas ruas e em macas sujas nos corredores dos hospitais. Não me refiro apenas à questão da saúde, mas do estado de pobreza e miséria em geral em todas as áreas.
Esta mesma celebridade, faminta e insaciável por qualquer aparição, instigada pela mídia fútil farejadora de audiência, da sacada de um hospital de luxo só para abonados, conta suas historinhas de fada como foi o parto, a amamentação e como estão seus bebês gêmeos, e até quem é o mais guloso(a).
   Os súditos lá embaixo de inocentes úteis vibram em histeria e querem saber mais coisinhas. Nas periferias, crianças desnutridas e outras que padecem de doenças graves não encontram vagas nos hospitais para tratamento de seus males, ou uma operação para salvar suas vidas.
  Muitos podem até dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra e que a vida é assim mesmo, composta de fracos e fortes, de bem dotados e de plebeus onde mandam os poderosos. O que acontece aqui é um estrangulamento, ou aniquilamento da vida, onde uma minoria chamada de reis, rainhas e príncipes suga o sangue de uma maioria obediente aos seus comandos.
Pode até ser natural para muitos, mas esta é a cara do nosso capitalismo sarcástico que curte com a desgraça dos outros. A mídia, por exemplo, anuncia invenções tecnológicas sofisticadas e descobertas da medicina cujos processos dificilmente.ou nunca, chegam ao alcance dos pobres. É a mania arrogante de só tratar a notícia como espetáculo, sem um comentário sério sobre a verdadeira realidade da situação sociológica do país. Em minha opinião, jornalismo não é espetáculo.
  A televisão mostra imagens de uma madame rica na sua casa de luxo sendo atendida por um médico da família quando as unidades de saúde dos bairros carentes estão abandonadas. Isso não é uma afronta à maioria do povo que passa seis meses ou mais para conseguir marcar uma consulta?
A própria imprensa faz matérias condenando a automedicação, mas não questiona o outro lado que motiva este hábito não recomendado da população. Até parece que cada brasileiro deste torrão tão injustiçado tem um médico à sua disposição quando sente uma dor de barriga, de garganta, de cabeça ou uma simples gripe.
No país dos absurdos sociais de tantas diferenças, o metatarso do jogador Neymar toma todos os espaços sensacionalistas da mídia, desde sua contusão no campo europeu, sua chegada ao Brasil com sua equipe de médicos especialistas, cenas da operação até sua mansão de luxo no Rio de Janeiro.
  Como se não bastasse a vida de degradação social das mais baixas do planeta, o povo brasileiro é zombado e humilhado  por ostentações de um consumismo luxuriante que nunca esteve ao seu alcance.
Infelizmente, por falta de consciência política e intelectual, este povo termina sendo escravo de quem lhe despreza, se bem que, de maneira falsa e hipócrita, diz que o ama, sem preconceitos e restrições. É tudo uma lavada mentira, como é a própria vida em que vivemos nesta terra pindorama.  

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